quarta-feira, 1 de agosto de 2007

CONFIDÊNCIAS: CONFIDÊNCIAS: EU POSSO TE AJUDAR

SIR JOHN HOTT

20/06/2007

No inicio do século XVI, Sir John Richard Hott, um alemão da cidade de Berlin, radicado em Londres, recebeu do Arcebispo de Canterbury a incumbência de guardar alguns documentos históricos.Foi ordenado a ele, que jamais, sob nenhuma hipótese, o conteúdo deveria ser lido ou revelado.Sir John era um homem culto, feições imponentes, alto e austero. Sua presença impunha certo receio aos que os cercavam. Entretanto, tinha alto senso de justiça e generosidade. Além de uma curiosidade nata. Era um homem além da sua era.Sir John guardou tais documentos por dez anos. Até que um dia, em uma incursão às vielas de Londres, conheceu acidentalmente uma mulher, que se apresentou a ele como Valentina. Era uma mulher muito branca, jovem, cabelos avermelhados com uma mecha branca na testa, o que a tornava ainda mais atraente. Tinha olhos misteriosos num tom de azul profundo e um sorriso franco. Usava um véu negro, que lhe cobria parte sua cabeça e conferia-lhe ainda mais o tom de mistério.Os dois conversaram por algum tempo e Valentina pediu para que ele a seguisse. Caminharam pelas vielas estreitas e escuras, até chegarem a uma enorme porta de madeira maciça, com grandes dobradiças de ferro uns tanto carcomidos pelo tempo. Valentina parou por um momento, diante da enorme porta e disse: - Tens certeza de que queres prosseguir?Sir John não tinha certeza do que se tratava. Não sabia se estava diante de um possível conluio amoroso ou caindo em uma armadilha. Todavia, decidiu prosseguir. Então disse em tom irônico: - Prossiga! A mulher abriu a enorme porta que dava acesso a um corredor estreito, com várias portas de ambos os lados. Caminharam cautelosos, evitando as poças d’água, até chegarem em frente da quinta porta à direita. Onde pararam e Valentina retirou de uma pequena bolsa em forma de saco, uma enorme chave de metal. Abriu a porta e entraram.No interior da casa haviam velas acesas e um cheiro agradável, quase inebriante tomou conta do ar.Havia muitos livros em uma enorme estante, livros pelos cantos da sala, livros empilhados e alguns jogados sobre o sofá de veludo vermelho, desgastado pelo tempo.A pouca iluminação tornava aquele ambiente sombrio e misterioso. Intrigante, mas, não assustador. Afinal, pensou ele “que mal poderia fazer-me uma mulher tão atraente?” Limpou os pés no capacho colocado à porta e entrou. Ficando de pé diante de uma mesa rústica, onde também haviam livros empilhados.Valentina entrou logo atrás, retirou o véu, jogou-o sobre a mesa e sentou-se em uma cadeira revestida de couro e encosto alto que se encontrava atrás de uma escrivaninha empoeirada. Retirou algo que parecia um pergaminho de uma das gavetas e disse, fazendo um gesto com a mão: - Sente-se!Sir John, que estava de pé com uma das mãos no queixo, demonstrando estar intrigado, olhou para Valentina e sentou-se, sem dizer nada.Ela olhou-o fixamente nos olhos e disse som um sorriso enigmático: - Deves estar se perguntando qual o motivo de eu tê-lo trazido até aqui? Sir John apenas acenou com a cabeça em sinal afirmativo.Valentina levantou-se, colocou as duas mãos sobre a mesa e disse: - Não é um assédio, se é nisso que o senhor esta pensando. O motivo de tê-lo trazido aqui é outro. Sei que guardas documentos importantes, que foram tirados de nós e que queremos de volta.Sir John levantou-se rapidamente e perguntou indignado: - Que documentos?Valentina sinalizou com a mão, indicando-lhe que se sentasse e acalmasse e disse: - O Clero há muitos anos, trava uma batalha contra nós, os “Guardiões da Verdade”. Tenta calar nossa voz, destruir nossos pergaminhos, documentos e artefatos. Perseguem nossas mulheres e homens, julgam-nos e condena-os à fogueira. Sem nenhuma chance de defesa.Sir John irritado disse: - Eu não sei do que você está falando!Valentina olhou-o com certo desprezo e disse incisiva: - Talvez não saiba mesmo. É muito cômodo ficar nessa pose superior, mas, alheio às coisas que acontecem a sua volta. Muito provavelmente nem tenha se dado ao trabalho de investigar os documentos que lhe foram confiados.Sir John caminhou pela sala e disse: - Cumpro ordens!- Mas o senhor não tem nem um pouco de curiosidade? - Talvez o tenha – disse ele – mas tenho um código de conduta austero.- O senhor sabe que documentos guardas. Que inestimáveis tesouros estão em seu poder?Sir John ficou em silêncio por um instante e então disse: - Talvez deva reavaliar o meu conceito. Talvez, deva ler tais documentos... Tolice! O arcebispo é autoridade máxima. O que você está pensando que sou... Algum idiota?Valentina colocou as mãos na cintura e de maneira debochada disse: - Estou diante do maior idiota que já conheci.Sir John com o dedo em riste e o rosto ruborecido, falou: - Você não tem o menor respeito por ninguém. Eu não sei o que estou fazendo aqui! – Caminhou com passos bruscos até a porta e: - Espere! – disse Valentina – Acalme-se. Precisamos conversar! Não foi minha intenção aborrece-lo.John ficou parado à porta esperando enquanto Valentina dizia: - Sente-se. Vou tentar esplicar-lhe um pouco do que fazemos. John caminhou até o sofá e sentou-se com semblante aborrecido e falou: - Você disse nós... O que quer dizer com nós? Valentina caminhou a passos lentos pela sala, parou e disse: - As revelações que vou lhe fazer, certamente mudará sua vida. Passarás, se acreditares no que digo, a ver o Cristianismo de maneira diferente. Tudo começou com a suposta morte do Profeta. Que era um homem extraordinário, com uma visão política muito à frente do seu tempo. Uma alma generosa e caridosa, uma inteligência privilegiada, uma intuição apuradíssima, um poder mental extraordinário, uma espiritualidade evoluída no mais alto grau, contudo, um homem. Jesus usava as palavras com sabedoria. Falava metaforicamente, usando simbolismos e apesar da ignorância dos seus seguidores, acreditava que o compreendiam. Talvez, tenha sido esse o seu único erro...Sir John levantou-se abruptamente e indignado, disse: - Eu jamais ouvi tamanha sandice. Você tem idéia das barbaridades que estais dizendo?Valentina permaneceu de pé, com as mãos na cintura e disse: - Eu tinha certeza de que tomarias atitude como esta, mas, vou prosseguir, pois vejo no senhor um homem de mente aberta. Precisas apenas de algumas chaves para abrir as portas do conhecimento. Sente-se e acalme-se! Como estava dizendo... O único erro de Jesus foi acreditar que suas palavras poderiam ser compreendidas na íntegra. Jesus desapercebeu-se da ignorância do povo, das superstições, crendices e falta de conhecimento das verdades. Àquele povo havia sido escravizado. Primeiro pelos Sacerdotes, depois pelos Romanos, que se uniram aos inescrupulosos Sacerdotes, que amealhavam as benevolências do Império Romano. Pois não queriam perder os privilégios de suas posições. Poder, meu amigo. Essa é a palavra chave... Poder. Anáz e Caifaz eram sogro e genro, sacerdotes poderosos, que pregavam a palavra de Jeová, um Deus pagão cruel e vingativo... – Sim, mas o que tem tudo isso com o Cristianismo? – perguntou Sir John? – Estou apenas contando-lhe o início para que compreendas. Após a morte do Cristo, os cristãos passaram de perseguidos a perseguidores. As palavras que o Cristo deixou, foram deturpadas, distorcidas e adaptada às conveniências dos seus Sacerdotes. Muitos dos romanos se converteram e levaram o cristianismo a Roma, atual Itália. A Instituição tomou vulto e criou suas próprias regras institucionais. Sempre objetivando o poder. Quando digo poder, estou me referindo ao poder de interferir nas vidas alheias, criando regras, angariando bens para manter os privilégios dos seus Sacerdotes... – Eu não posso acreditar que esteja perdendo o meu tempo com tamanho absurdo! - Disse Sir John indignado - Não existe nenhum absurdo no que digo. A Igreja Cristã é uma entidade improdutiva, mas milionária. De onde vem tamanha fortuna? Da compra de benevolência dos poderosos, que doam grandes áreas de terras em troca do perdão dos seus pecados. O que é feito sem questionamento por Bispos e Arcebispos.Valentina ficou em silencio observando a expressão de espanto no rosto daquele homem. Que também fitava seu rosto estático.

Passados alguns minutos, Sir John perguntou com voz moderada: - Como você sabe de tudo isso?

Sou uma das guardiãns das verdades de Cristo.